SOMBRIO

VEJO-ME A BEIRA DE UM PRECIPÍCIO, ESTOU DE PÉ PARADA NA PONTA, OLHO AO REDOR E NADA VEJO ALÉM DE ESCURIDÃO; NÃO IMPORTA ONDE EU OLHE APENAS VEJO SOLIDÃO E SOMBRAS;  ALGUMAS ACREDITO SEREM DAS ARVORES,MAIS NÃO TENHO CERTEZA SE SÃO; SINTO FRIO, É TUDO TÃO SOMBRIO; OLHO ENTÃO PARA O CHÃO, VEJO UM TOM DE CINZA E SEI QUE SÃO DAS PEDRAS E É SOMENTE O QUE VEJO,PEDRAS E MAIS PEDRAS AO REDOR; COM ESFORÇO VEJO A SOMBRA DE ALGUNS GALHOS SECOS QUE O VENTO INSISTE EM ARRASTAR; OLHO PARA O HORIZONTE  E  VEJO MAIS TOM DE CINZA SÓ QUE MAIS CLARO E SEI QUE É DA LUZ DA LUA; FECHO MEUS OLHOS NA ESPERANÇA DE SER MAIS UM PESADELO, MAIS NÃO É PESADELO, EU SEI; MAIS O QUE EU QUERO É SÓ DESPERTAR, ABRO OS MEUS OLHOS E VEJO QUE É REAL; ENTÃO EM UM SUSPIRO PROFUNDO PERCEBO QUE NÃO VOU DESPERTAR; ESTOU SÓ , MAIS NÃO SEI COMO CHEGUEI ATÉ ALI; FICO IMÓVEL E ENTRE A LOUCURA E A REALIDADE CONSIGO AINDA PENSAR E NUMA ESPECIE DE AUTO CONTROLE CONSIGO SENTIR A BRISA A ME TOCAR , É  FORTE E SINTO MEUS CABELOS A ESVOAÇAR;  SINTO O CHEIRO DO MAR, E ISSO ME ACALMA POR UM SEGUNDO; OUÇO AS ONDAS QUEBRANDO NAS ROCHAS ENTÃO DECIDO OLHAR PARA BAIXO E VEJO A IMENSIDÃO DE NADA A ME CHAMAR; MAIS EU SEI QUE É O MAR; SINTO ALGO ME ATRAINDO PARA BAIXO, É COMO UM IMÃ A ME PUXAR, MAIS NÃO QUERO IR, EU QUERO FICAR  E MEU CORPO APENAS OBEDECE; OLHO MEUS PÉS E PERCEBO QUE ESTOU DESCALÇA, SINTO O GELO DAS PEDRAS PASSAR PELOS OSSOS, TALVEZ SEJA ISSO QUE ME PRENDE ALI; TENHO A SENSAÇÃO DE QUE A ALTURA NÃO É TANTA, PARECE ESTAR AO ALCANCE DAS MÃOS, IMAGINO-ME SENTANDO A BEIRA E TOCANDO O MAR COM OS PÉS. OLHO PARA TRÁS E VEJO NOVAMENTE A ESCURIDÃO E É INEVITÁVEL PENSAR...( PULO OU VOLTO ATRÁS).

O MEDO É AVASSALADOR;

ENTRANHA EM  MINHA ALMA,

 COM TANTA CALMA ;

QUE CHEGO A SENTIR UMA DOR;

SINTO CALAFRIOS EM MEU CORPO;

ARREPIOS NO ROSTO;

SINTO A PELE OURIÇAR;

SINTO O VAZIO CHEGAR; 

INSTALA-SE COM TANTA  PRESSA,

E NÃO IMPORTA O QUE EU FAÇA;

ELE NÃO VAI ME DEIXAR.

E EM MEIO A TANTO  VAZIO;

SINTO QUE ESTOU POR UM FIO ;

SINTO QUE VOU ME ENTREGAR;

SINTO-ME ESVANECENDO ;

ENFRAQUECENDO , 

ATÉ NÃO MAIS SUPORTAR;

SINTO-ME SÓ UMA CASCA;

UMA CRIATURA EM DESGRAÇA; 

QUE FALTA NÃO MAIS LHE FARÁ;

O BREU JÁ TOMOU CONTA;

INVADIU E SECOU-ME POR DENTRO;

NÃO RESTA MAIS SENTIMENTO;

NEM LAGRIMA MAIS ME RESTOU;

E POR MAIS QUE EU BUSQUE E IMPLORE;

NINGUÉM VIRÁ ME RESGATAR;

ENTÃO, SIMPLESMENTE ME FLAGRO;

VIAJO NA IMENSIDÃO E DIVAGO;

QUE SOU COMO ESSE MAR;

SOZINHA SOB A LUZ DO LUAR;

NUMA ETERNA E AGONIZANTE ESPERA;

POR ALGUÉM QUE QUEIRA EM MIM MERGULHAR!

Autora.: Joci Borges